23 de fev. de 2009

A IDIOTICE É VITAL PARA A FELICIDADE



Gente chata essa que quer ser séria, profunda, visceral.
Putz, coisa pentelha.
A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado do Schopenhauer?
Deixe a pungência para as horas em que ela é
inevitável: mortes, separações, dores.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota.
Ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades.
Ignore o que o boçal do seu chefe proferiu. Pense
assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos
os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de
amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que
tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos
claramente traçados mas não consegue rir quando tropeça?
Que sabe resolver uma crise familiar mas não tem a menor
idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Sim, porque é bem comum gente que fica perdida quando
se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já
não têm por que se desesperar?
Em suma: desaprenderam a brincar.
Eu não quero alguém assim comigo.

A realidade já é dura; piora se for densa. Dura e densa, ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo
de não brincar com comida, não falar besteira, não ser
imaturo, não se descontrolar, não demonstrar o que sente.
É muito não. Dá pra ser feliz com tanto não?

Pagar as contas, ser bem-sucedido, amar, ter filhos - tarefa brava.
Piora, muito, com o peso de todos aqueles nãos.
Tenha fé em uma coisa: dá certo ser adulto e idiota.
Aliás, tudo fica bem mais fácil se for regado a idiotice, bom humor.

Manuel Bandeira foi um grande homem e um grande poeta.
Disse certa vez: "E por que essa condenação da piada,
como se a vida fosse só feita de momentos graves ou
só nesses houvesse teor poético?"
Estava certo.
Empine pipa!!! Adultos podem (e devem) contar piadas,
ir ao fliperama, beliscar a bunda da mulher, sair
pelados pela cozinha. Ser adulto não é perder os
prazeres da vida - e esse é o único "não" aceitável.


(Ailin Aleixo é colunista da revista Vip, onde este artigo foi originalmente publicado.)

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