24 de jul. de 2008

CANTO DA PLENITUDE


Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente,e a pele translúcida
há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agradada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)



O que te posso dar a mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.




Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas,a aguardar-te quando vais,a dar-te regaço de amante e colo de amiga,e sobretudo fora o que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés e mesmo se fogem e retornam,cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias.

Texto de Martha Medeiros

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